
Direitos do médico residente: o que a lei realmente garante durante a residência médica? Neste guia completo, você vai entender de forma direta todos os direitos legais do residente, como jornada máxima de 60h, folga semanal obrigatória, férias remuneradas, licença-maternidade e paternidade, outras licenças legais, auxílio-moradia e isenção de IR. Tudo com base na Lei 6.932/81 e resoluções da CNRM
Quais são os principais direitos do médico residente?
A residência médica é definida pela Lei nº 6.932/1981 como uma modalidade de ensino de pós-graduação para médicos, em regime de treinamento em serviço, com foco educacional e assistencial. Embora não configure vínculo celetista, o médico residente possui uma série de direitos legais garantidos por essa legislação.
Direito | Base Legal | Observação Prática |
---|---|---|
Bolsa-auxílio | Art. 4º, Lei 6.932/81; Portaria MEC/MS nº 9/2021 | Valor mínimo atual: R$ 4.106,09. Pode ser revisado anualmente (Art. 4º, §6º). |
Jornada de 60h semanais | Art. 5º, Lei 6.932/81 | Inclui até 24h de plantão. Resolução CNRM nº 4 de 16.06.2011 exige 6h de descanso pós-plantão. |
Férias de 30 dias | Art. 5º, §1º, Lei 6.932/81 | Deve ser usufruída anualmente, preferencialmente em um único período |
Folga semanal | Art. 5º, §1º, Lei 6.932/81 | Um dia de descanso obrigatório por semana, garantido por lei |
Licença-maternidade | Art. 4º, §2º e §3º, Lei 6.932/81 | 120 dias + 60 de prorrogação, mediante solicitação |
Licença-paternidade | Art. 4º, §2º, Lei 6.932/81 | 5 dias corridos após o nascimento do filho |
Licença por saúde | Lei 6.932/81 art. 4º § 4ºs | Prorrogação do programa. Sempre há reposição da carga horária |
Licença casamento | Regimento interno de cada COREME | Em média de 3 a 8 dias |
Licença para cuidado de familiar | Prática institucional (regimentos COREME) | Afastamento para cuidar de familiar com doença grave. Pode ser solicitado via COREME com documentação médica |
Licença Nojo (Falecimento) | Depende do regimento interno | A expectativa é de 2 (dois) a 8 (oito) dias |
Moradia | Art. 4º, §5º, III, Lei 6.932/81 | Obrigatória ou indenizada (jurisprudência: até 30% da bolsa). |
Alimentação e repouso | Art. 4º, §5º, I e II, Lei 6.932/81 | Condições adequadas durante plantões são obrigatórias. |
Meia-entrada | Lei nº 12.933/2013 | Direito à meia-entrada com documento oficial ou carteirinha. |
Estágio optativo | Resolução Sesu nº 27, de 18 de abril de 2019 | Pode ser realizado em outra instituição (inclusive no exterior), com duração de até 30 dias. Requer autorização da COREME. |
Isenção de Imposto de Renda | IN RFB nº 1.500/2014, art. 11, I e §1º | A bolsa de residência é isenta de IR |
Licença para o Serviço Militar (Trancamento) | Resolução CNRM Nº 01/2005 | Trancamento durante um ano |

Os médicos residentes tem que trabalhar no feriado?
Sim — mas os direitos a feriados e folgas dos médicos residentes seguem regras específicas. O que a legislação garante de forma expressa é:
- 1 dia de folga por semana (Art. 5º, §1º da Lei nº 6.932/81)
- 30 dias consecutivos de descanso por ano (na forma de férias)
- Carga horária máxima de 60 horas semanais, com no máximo 24 horas seguidas de plantão
A lei não trata diretamente sobre feriados. Na prática, isso significa que o residente pode ser escalado para trabalhar em domingos e feriados, desde que a jornada semanal respeite o limite legal e a folga semanal seja preservada.
Não há pagamento extra por trabalhar em feriados. o residente não é regido pela CLT, logo, não se aplica o adicional de 100% do dia trabalhado. No entanto, quando o residente atua em um feriado, é prática consolidada que ele tenha direito a uma folga compensatória, a ser definida pela COREME, para garantir seu repouso mínimo.
Exemplo prático: se o residente cumprir plantão de 12h no feriado, a instituição deve assegurar o descanso de 6h após o plantão (Res. CNRM 4/2011) e uma folga compensatória em outro dia da semana ou do mês.
Essa compensação não é um benefício opcional: é parte das obrigações da instituição e deve ser respeitada para não extrapolar a jornada máxima e nem suprimir o descanso semanal obrigatório.
Conclusão: o residente tem direito a folga semanal e a descanso compensatório em caso de trabalho no feriado. Isso garante a proteção mínima de sua saúde física e mental durante a formação profissional, conforme previsto pela legislação e pelos regimentos institucionais da residência médica.
Quantas horas por dia e por semana um residente pode trabalhar?
O máximo legal é 60 horas por semana, somando tudo: aulas, ambulatório, plantões. Dentro disso, o residente pode fazer até 24 horas seguidas de plantão, mas tem que descansar no mínimo 6 horas depois, segundo a Resolução CNRM nº 4/2011.
Na prática, muita gente passa desse limite — seja por pressão, má gestão ou falta de controle. Mas isso é ilegal. O residente deve ficar atento à própria carga horária, registrar tudo e, se precisar, cobrar da COREME ou denunciar à CNRM.
Resumindo: passou de 60 horas ou não teve descanso depois do plantão? Está errado. Documente e exija seus direitos.
Médico residente tem direito a 13º (décimo terceiro) ?
Em regra, não. A residência médica é formalmente uma bolsa de estudos, sem vínculo celetista. Por isso, o 13º salário não é automaticamente garantido.
No entanto, alguns tribunais têm reconhecido o direito ao 13º quando fica comprovado que o residente atuava como empregado de fato — com subordinação direta, carga horária abusiva ou tarefas desvinculadas da formação.
O residente contribui para o INSS como segurado obrigatório, mas não tem direito a FGTS nem às demais verbas da CLT, salvo nos casos em que a Justiça reconhece vínculo empregatício.

Quais licenças são garantidas nos direitos do médico residente?
O médico residente, embora não tenha vínculo celetista, tem direito a diversas licenças durante o programa. A maioria exige reposição da carga horária ao final da residência, mas algumas mantêm o pagamento da bolsa conforme o caso e o tempo de afastamento. Veja os principais tipos:
Licença por saúde
Afastamentos por doença são permitidos, mas seguem uma lógica própria:
- Até 15 dias corridos por ano: a instituição continua pagando a bolsa normalmente.
- A partir do 16º dia, o pagamento da bolsa é suspenso e o residente deve solicitar auxílio-doença ao INSS.
- Em qualquer caso, o período deve ser integralmente reposto ao final do programa, conforme o art. 36 da Resolução CNRM nº 2/2023 e art. 4º, §4º da Lei 6.932/81.
Licença maternidade
A médica residente tem direito a 120 dias de afastamento por gravidez ou adoção, podendo ser prorrogados por mais 60 dias, conforme a Lei 6.932/81, art. 4º, §2º e §3º.
- A bolsa é paga pelo INSS durante o período.
- A residente deve solicitar o benefício diretamente ao INSS.
- Todo o tempo é reposto ao final da residência.
Licença paternidade
O médico residente tem direito a 5 dias consecutivos após o nascimento do filho, com manutenção da bolsa.
- A previsão consta na Lei 6.932/81, art. 4º, §2º.
- O período deve ser reposto posteriormente, mesmo sendo remunerado.
Licença nojo (falecimento)
Essa licença não é prevista na Lei da Residência, mas aparece em diversos regimentos internos de COREME, geralmente com até 2 a 8 dias de afastamento, dependendo do grau de parentesco.
- É necessário apresentar comprovante de óbito.
- O tempo afastado costuma ser reposto, mesmo sendo autorizado.
Licença casamento (licença gala)
Também não está prevista na legislação federal, mas é prática recorrente nos regimentos internos, que concedem de 3 a 8 dias corridos mediante comprovação com certidão de casamento.
- Normalmente remunerada.
- A carga horária é reposta ao final da residência.
Licença para cuidado de familiar
Essa licença é institucional, concedida mediante análise da COREME e apresentação de laudo médico do familiar.
- Não há previsão legal direta.
- O afastamento costuma ser sem bolsa se for longo, e requer reposição da carga horária.
Trancamento por serviço militar
Nos casos de convocação militar obrigatória, o residente pode trancar a matrícula por até 1 ano, conforme a Resolução CNRM nº 01/2005.
- Não há pagamento de bolsa nesse período.
- O retorno ao programa ocorre mediante reintegração formal.

Quais são os direitos à moradia para residentes?
A legislação prevê que o residente tem direito à moradia estudantil, não sendo o mesmo que alojamento para plantão. O alojamento é apenas um espaço de descanso durante os turnos, enquanto a moradia estudantil é o suporte habitacional para todo o período do programa.
- Quando a instituição não oferece moradia estudantil, é possível solicitar o auxílio-moradia, com jurisprudência reconhecendo o valor de até 30% da bolsa.
- Caso a solicitação seja negada, o residente pode buscar reconhecimento judicial do benefício.
Saiba como funciona o auxílio-moradia para médicos residentes e confira os documentos exigidos para pedir o benefício.
Quantas faltas o residente pode ter? O que configura abandono?
O residente deve cumprir 100% da carga prática e ao menos 85% da teórica. Faltas justificadas por saúde são permitidas até 15 dias por ano, com bolsa garantida. Após isso, o INSS assume o pagamento (auxílio-doença).
Licenças como nojo (falecimento) e gala (casamento) variam conforme o regimento da COREME, com média de 3 a 8 dias.
Abandono se configura por ausência injustificada por 30 dias seguidos ou faltas que inviabilizem o cumprimento da carga horária mínima.
Os direitos incluem bolsa mensal, jornada limitada, férias, licenças legais, moradia, folgas semanais entre outros.
Não, como regra. A residência é considerada uma pós-graduação com bolsa, e não gera 13º automaticamente. Salvo algumas decisões judiciais.
Têm direito ao descanso semanal e, se escalados em feriados, podem receber folga compensatória.
Até 60 horas semanais, respeitando períodos de descanso entre plantões
Sim, se ultrapassar o limite permitido de faltas não justificadas, que comprometa a frequência mínima exigida.
